NINA FLÔ




Nina Flô, "Off Flip"_poe Matrix 3.0, 2016


Nina Flô I


Balada para um louco

num dia desses
ou numa noite dessas
você sai ai pela sua rua
ou pela sua cidade
eu sei lá...
pela sua vida
quando de repente
por detrás de uma árvore
apareço eu
mescla rara de penúltimo mendigo
e primeiro astronauta
a por os pés em Vênus
meia melancia na cabeça
uma grossa meia sola em cada pé
as flores da camisa
desenhadas na própria pele
e uma bandeirinha de táxi livre
em cada mão
você ri?
você ri
porque só agora você me viu
mas eu flerto com os manequins
o semáforo da esquina
me abre três luzes celestes
e as rosas da florista
estão apaixonadas por mim

juro
vem! vamos passear
e assim, meio dançando
quase voando

e te digo:
já sei que já não sou
passei, passou
a lua nos espera nessa rua
é só tentar
e um coro de astronautas
de anjos e de  crianças
bailando ao teu redor
te chamam
vem voar

já sei que já não sou
nem sei quem sou
eu venho das calçadas
que o tempo não guardou
e vendo-te tão triste
pergunto
o que te falta?
talvez chegar ao sol
eu te levarei
louco!
louco!
louco!
foi o que me disseram
quando disse que te amei
mas...
naveguei as águas puras dos teus olhos
e com versos tão antigos
eu quebrei teu coração
louco!
louco!
louco!
como acrobata demente    
saltarei!
dentro do abismo do teu beijo
até sentir
que enlouqueci teu coração
e de tão livre
chorarei
vem voar comigo querida minha
entra na minha ilusão super esporte 
e vamos correr pelos telhados
com uma andorinha no motor
no vietnã nos aplaudem
viva!
viva os loucos
que inventaram o amor
e um anjo
um soldado e uma criança
repetem a ciranda
que eu já esqueci
vem!
eu te ofereço a multidão
rostos brilhando
os sorrisos brincando
sou eu, sei lá...
um tonto
um santo
um canto a meia voz
já sei que já não sou
nem sei quem sou
abraça essa ternura de louco
que há em mim
derrete com teu beijo
a pena de viver
angustias nunca mais!
voar, enfim voar!
ama-me como eu sou
passei, passou
sepulta os teus amores
vamos fugir
buscar numa corrida louca
um instante que passou
em busca do que voar
enfim...
voar

"Balada para um Louco" poesia de Horácio Ferrer, tradução de Moacir Franco





2 comentarios:

  1. num dia desses
    ou numa noite dessas
    você sai ai pela sua rua
    ou pela sua cidade
    eu sei lá...
    pela sua vida
    quando de repente
    por detrás de uma árvore
    apareço eu
    mescla rara de penúltimo mendigo
    e primeiro astronauta
    a por os pés em vênus
    meia melancia na cabeça
    uma grossa meia sola em cada pé
    as flores da camisa
    desenhadas na própria pele
    e uma bandeirinha de táxi livre
    em cada mão
    você ri?
    você ri
    porque só agora você me viu
    mas eu flerto com os manequins
    o semáforo da esquina
    me abre três luzes celestes
    e as rosas da florista
    estão apaixonadas por mim

    juro
    vem! vamos passear
    e assim, meio dançando
    quase voando
    Eu te ofereço uma bandeirinha
    e te digo:
    já sei que já não sou
    passei, passou
    a lua nos espera nessa rua
    é só tentar
    e um coro de astronautas
    de anjos e de crianças
    bailando ao teu redor
    te chamam
    vem voar

    já sei que já não sou
    nem sei quem sou
    eu venho das calçadas
    que o tempo não guardou
    e vendo-te tão triste
    pergunto
    o que te falta?
    talvez chegar ao sol
    eu te levarei
    louco!
    louco!
    louco!
    foi o que me disseram
    quando disse que te amei
    mas...
    naveguei as águas puras dos teus olhos
    e com versos tão antigos
    eu quebrei teu coração
    louco!
    louco!
    louco!
    como acrobata demente
    saltarei!
    dentro do abismo do teu beijo
    até sentir
    que enlouqueci teu coração
    e de tão livre
    chorarei
    vem voar comigo querida minha
    entra na minha ilusão super esporte
    e vamos correr pelos telhados
    com uma andorinha no motor
    no vietna nos aplaudem
    viva!
    viva os loucos
    que inventaram o amor
    e um anjo
    um soldado e uma criança
    repetem a ciranda
    que eu já esqueci
    vem!
    eu te ofereço a multidão
    rostos brilhando
    sorrisos brincando
    que sou eu, sei lá...
    um tonto
    um santo
    um canto a meia voz
    já sei que já não sou
    nem sei quem sou
    abraço essa ternura de louco
    que há em mim
    derrete com teu beijo
    a pena de viver
    angustias nunca mais!
    voar, enfim voar!
    ama-me como eu sou
    passei, passou
    sepulta os teus amores
    vamos fugir
    buscar numa corrida louca
    um instante que passou
    em busca do que voar
    enfim...
    voar

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  2. Balada para um louco
    Poesia: Horácio Ferrer
    Musica: Astor Piazzolla
    Tradução: Moacir Franco

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